Sobre a Revista

A Revista Paisagens Econômicas busca provocar inflexões a temas caros à economia política e à teoria antropológica – produção, trabalho, circulação, troca, consumo, valor – a partir de um olhar atento aos modos como as pessoas produzem, fazem circular, estabelecem relações e articulam-se com seres dos mais diversos para formar paisagens múltiplas; como quantificam e qualificam o tempo e as coisas do mundo para estabelecer equivalências improváveis e sempre mutantes; como imaginam, planejam e constroem expectativas de futuros. 

Pretende, assim, reunir trabalhos que fazem ver como a noção ortodoxa de Economia conforma uma narrativa única restritiva, que toma por suposto uma organização social regida por agentes que pensam o mundo a partir de modelos econômicos e cálculos matemáticos, em geral voltados para a maximização dos lucros capitalistas. Acolhemos, assim, textos que se esquivam de narrativas hegemônicas ao contar histórias sobre as sutilezas dos mundos vividos, que reconheçam as presenças articuladas do Capital, Estado e Ciência (Stengers, 2015), e até se engajem com elas, mas a partir de seus próprios termos, interconectando corpos, políticas, culturas, cosmologias e ecologias.

Em termos teóricos, esta proposta se inspira em abordagens que explicitam a base racial e patriarcal do capitalismo. Nesse sentido, a revista convida debates da tradição radical negra que explicitam a metafísica racialista na gênese do capitalismo, que confere o substrato epistêmico que se vê nas relações históricas e atuais como para experiência de resistência (Robinson, 1983). Recebe também reflexões que enfatizam como a intersecção de gênero, raça e classe opera nas relações cotidianas (Gonzalez, 2020; Davis, 2000). Igualmente, acolhe autoras que adotam uma abordagem feminista ao estudo do capitalismo, tal como defendida por Bear, Ho, Tsing e Yanagisako (2015), que desafiam representações coerentes e totalizantes da economia. Tal perspectiva considera que a lógica generativa do capitalismo é pautada pela heterogeneidade e diferença, sendo necessário descrevê-lo como fruto de processos instáveis e contingentes que geram tipos particulares de pessoas, famílias e comunidades em meio a relações sociais que ora se fazem a partir de princípios da reciprocidade, ora como relações hierárquicas e desiguais. 

Por fim, a revista inspira-se na proposição de Gibson-Graham (2006) de que é necessário revelar diferentes paisagens econômicas (economic landscapes) para que se possa nutrir a imaginação sobre espaços e empreendimentos alternativos, abrindo assim a possibilidade de desafiar desigualdades estruturais. A intenção da Revista, assim, é reunir trabalhos que abram perspectivas pouco exploradas, que nos possibilitem ir além da crítica a representações da economia e do capitalismo, ao mostrar como alternativas econômicas são performadas na prática (Gibson-Graham & Cameron, 2013). Ou, como afirma Malcom Ferdinand (2022), que possibilitem pensar uma ecologia de luta decolonial, que a um só tempo desafie as destruições ecossistêmicas e reafirme a exigência de igualdade e emancipação.

Nesse sentido, são bem vindas contribuições que dialoguem e se engajem com perspectivas feministas, decoloniais e pós-coloniais, heterodoxas, periféricas, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, campesinas, ou quaisquer outras que elaborem composições feitas de costuras narrativas, desvios temáticos, traições conceituais, curvas textuais capazes de mostrar e inspirar outras formas de imaginação sobre o mundo e suas economias.

Modalidades de publicação:

Artigos - devem ser inéditos e apresentar resultados de pesquisas originais em diálogo com o escopo da revista apresentado acima;

Ensaios - publicação de textos de opinião e/ou reflexão adensados com dados de pesquisa ou discussões teóricas, que possam incidir em debates públicos relevantes e urgentes;

Resenhas - análises críticas que tratem de produções bibliográficas realizadas nos últimos cinco anos;

Ensaios fotográficos - devem apresentar reflexões sobre processos ou resultados de pesquisa atrelados a um caderno de imagens.

As normas para elaboração do manuscrito, assim como as orientações para citações e referências bibliográficas, podem ser acessadas aqui.

 

Referências Bibliográficas

 

BEAR, L.; HO, K.; TSING, A. L.; YANAGISAKO, S. Gens: A Feminist Manifesto for the Study of Capitalism. Theorizing the Contemporary. Fieldsights, mar. 2015. Disponível em: https://culanth.org/fieldsights/gens-a-feminist-manifesto-for-the-study-of-capitalism. Acesso em: 15 jan. 2023.

DAVIS, A. Women and Capitalism: Dialectics of Oppression and Liberation. In: Joy James and T. Denean Sharpley-Whiting, eds. The Black Feminist Reader. Oxford: Blackwell, 2000, pp. 146-182

FERDINAND, M. Uma Ecologia decolonial: pensar a partir do mundo caribenho. São Paulo: Ubu Editora, 2022.

GIBSON-GRAHAM, J. K. The end of capitalism (as we knew it): a feminist critique of political economy. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2006.

GIBSON-GRAHAM, J. K.; CAMERON, J.; HEALY, S. Take back the economy: An ethical guide for transforming our communities. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2013.

GONZALES, L. Por um Feminismo Afro-Latino-Americano: Ensaios, Intervenções e Diálogos. Rio Janeiro: Zahar, 2020.

STENGERS, I. No Tempo das Catástrofes. São Paulo: Cosac Naify, 2015.